Nos últimos meses, o debate sobre o retorno do horário de verão no Brasil voltou com força, movido por discussões no governo federal sobre energia, clima e economia. A medida, extinta em 2019, pode ser reintroduzida ainda em 2024, diante da grave crise hÃdrica que o paÃs enfrenta, levando a um aumento expressivo no consumo de energia. Mas será que a volta do horário de verão é a solução ideal para esses desafios? Neste artigo, exploraremos os possÃveis impactos dessa decisão e o que podemos esperar nos próximos meses.
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A crise energética e a possÃvel volta do horário de verão
Em 2024, o Brasil enfrenta uma das maiores crises hÃdricas de sua história recente. Reservatórios de hidrelétricas, responsáveis pela maior parte da geração de energia elétrica no paÃs, estão em nÃveis crÃticos. Esse cenário tem aumentado a dependência de termelétricas, fontes de energia mais caras e poluentes, para atender à crescente demanda por eletricidade, principalmente nos horários de pico.
O retorno do horário de verão está sendo cogitado como uma estratégia para enfrentar essa situação. Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a medida pode ajudar a reduzir o consumo nos horários de maior demanda, como o final da tarde e inÃcio da noite, quando o uso de iluminação e aparelhos elétricos aumenta consideravelmente.
Como o horário de verão ajuda a economia de energia?
A proposta de adotar novamente o horário de verão se baseia na premissa de que ao adiantar o relógio em uma hora, o perÃodo em que as pessoas utilizam eletricidade é deslocado para horários com mais luz solar. Isso resulta em menor uso de energia para iluminação e, potencialmente, para outros aparelhos que funcionam mais intensamente à noite.
Nos horários de pico, quando o consumo de energia é elevado, o sistema elétrico do Brasil tende a sobrecarregar, o que pode resultar em apagões ou no acionamento de termelétricas. Essas usinas têm um custo operacional mais alto e emitem mais gases poluentes, o que torna o horário de verão uma alternativa interessante para aliviar essa pressão no sistema.
O impacto nas cidades turÃsticas e no comércio
Além do benefÃcio energético, o horário de verão pode ser vantajoso para o comércio e o turismo. Cidades turÃsticas, especialmente no litoral e em regiões mais ensolaradas, aproveitam a luz natural estendida no final do dia para atrair mais visitantes. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) prevê um aumento de até 15% no faturamento de bares, restaurantes e outros estabelecimentos em áreas turÃsticas, caso a medida seja aprovada.
Para o comércio, o horário prolongado de luz natural incentiva as pessoas a permanecerem nas ruas e realizarem compras após o expediente. Isso aumenta o movimento nos shoppings, lojas de rua e áreas de lazer, ajudando a estimular a economia local.
Vantagens e desvantagens do horário de verão
BenefÃcios da economia de energia
Uma das maiores vantagens do horário de verão é a economia de energia. Com mais horas de luz solar durante o fim da tarde, a necessidade de iluminação artificial diminui, o que contribui diretamente para a redução do consumo de eletricidade em horários crÃticos.
Além disso, o horário de verão tem o potencial de incentivar o uso de fontes de energia renováveis, como a solar e a eólica, que são mais produtivas durante o dia. Ao sincronizar melhor a demanda por energia com a disponibilidade dessas fontes limpas, o Brasil pode depender menos das termelétricas.
Impactos na segurança pública
Outro ponto positivo é o aumento da segurança nas ruas. Com mais luz natural no fim do dia, as chances de assaltos e acidentes de trânsito tendem a diminuir. Ruas mais iluminadas geralmente transmitem maior sensação de segurança, o que pode ter um impacto direto na qualidade de vida, principalmente em grandes cidades.
Desvantagens e crÃticas
Apesar dos benefÃcios, o horário de verão também enfrenta resistência. Um dos principais argumentos contra a medida é o impacto no relógio biológico das pessoas, especialmente em crianças e adolescentes. A mudança de horário pode causar desconforto e problemas de adaptação, resultando em cansaço e irritabilidade, principalmente nas primeiras semanas após a alteração dos relógios.
Além disso, especialistas apontam que, com o avanço da tecnologia e o aumento da eficiência energética dos aparelhos eletrônicos, a economia gerada pelo horário de verão não é tão significativa quanto no passado. Essa mudança nos padrões de consumo faz com que muitos questionem se o sacrifÃcio de alterar o relógio vale a pena frente ao benefÃcio energético.
Expectativas para 2024: o que esperar?
Se o horário de verão for aprovado, ele deve voltar a ser implementado no inÃcio de novembro de 2024, seguindo o padrão dos anos anteriores à sua suspensão. A decisão final, no entanto, será do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está recebendo orientações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Enquanto parte do governo e do setor empresarial vê o retorno com bons olhos, ainda existem dúvidas sobre o real impacto da medida em um cenário energético tão complexo quanto o atual. Em setembro de 2024, o Brasil registrou um pico de consumo de 105 gigawatts (GW), muito acima da média usual de 85 GW. Esse aumento foi impulsionado pelo uso intensivo de aparelhos de ar-condicionado devido às altas temperaturas.
A opinião pública
A volta do horário de verão também divide a população. Pesquisas recentes indicam que 54,9% dos brasileiros são a favor da medida, enquanto 28% são contrários, e 16,9% permanecem neutros. A aprovação da medida tende a ser maior nas regiões Sul e Sudeste, onde o horário de verão tem um impacto mais visÃvel.
Desafios energéticos e o futuro
Apesar de seus benefÃcios pontuais, o horário de verão não é uma solução definitiva para os desafios energéticos do Brasil. A crise hÃdrica de 2024 mostra que o paÃs precisa de ações mais amplas e diversificadas para garantir a segurança do sistema elétrico. Investimentos em fontes renováveis, melhorias na infraestrutura de distribuição de energia e campanhas de conscientização sobre o uso eficiente de eletricidade são apenas algumas das medidas necessárias.
Considerações finais
O retorno do horário de verão em 2024 parece ser uma solução emergencial para aliviar a pressão sobre o sistema elétrico em um momento de crise, mas não sem controvérsias. A medida apresenta benefÃcios claros, como a economia de energia e o incentivo ao turismo e ao comércio, mas também enfrenta crÃticas, principalmente em relação ao impacto na saúde e na rotina das pessoas.
A decisão final do governo deve considerar tanto os aspectos técnicos quanto os efeitos sobre a população e a economia. Com as próximas semanas prometendo ser decisivas, o futuro do horário de verão no Brasil ainda está em aberto, mas sua possÃvel volta reacende o debate sobre como o paÃs pode equilibrar suas demandas energéticas e climáticas de maneira sustentável.
Imagem: Zephyr_p / shutterstock.com