O governo federal iniciou uma ampla discussão sobre a limitação do saque-aniversário do FGTS. A proposta, que ganhou força em 2025, visa reduzir a antecipação de parcelas dessa modalidade, argumentando que o uso excessivo compromete os investimentos em programas sociais, principalmente na área da habitação.
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O que é o saque-aniversário do FGTS?
Modalidade criada para dar liquidez ao trabalhador
Desde 2020, o saque-aniversário permite que os trabalhadores retirem anualmente uma parcela de seus saldos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), no mês de seus aniversários. Essa modalidade foi criada como alternativa ao saque-rescisão tradicional.
Como funciona o saque-aniversário?
- Saques variam entre 5% e 50% do saldo, conforme o montante disponível.
- Valores fixos adicionais podem ser somados, chegando a até R$ 2.900.
- A adesão é opcional.
- Quem opta por essa modalidade não pode sacar o saldo total em caso de demissão sem justa causa, recebendo apenas a multa rescisória.
Por que a modalidade se tornou tão popular?
A combinação de crise econômica, inflação e aumento no custo de vida impulsionou a adesão. Em 2024, cerca de 30 milhões de trabalhadores aderiram ao saque-aniversário, movimentando mais de R$ 15 bilhões.
Antecipação: a nova fronteira do crédito pessoal
Como funciona a antecipação do saque-aniversário?
Bancos como Caixa Econômica, Bradesco e Banco do Brasil passaram a oferecer a antecipação de até cinco parcelas futuras, com juros médios de 1,8% ao mês. Isso transforma o saque-aniversário em uma alternativa rápida de crédito.
Impactos da antecipação no fundo
Contudo, especialistas e o setor da construção civil alertam: esse tipo de operação compromete os recursos do FGTS, que são destinados a projetos estruturais como habitação popular, saneamento e mobilidade urbana.
Proposta do governo: o que está em debate
Objetivo: preservar os fundos para programas sociais
O governo propõe limitar a antecipação a três parcelas. A proposta busca preservar o FGTS como fonte de financiamento para projetos habitacionais, como o Minha Casa, Minha Vida, que em 2024 financiou mais de 500 mil unidades.
Setores envolvidos e suas posições
Setor bancário
Defende a continuidade da antecipação ampla, destacando o estímulo à economia e a liberdade de escolha do trabalhador.
Construção civil
Propõe a limitação a três parcelas. Argumenta que, sem controle, o fundo perderá até 20% de sua capacidade de investimento em cinco anos, dificultando o acesso à moradia.
Trabalhadores
Apontam a necessidade do saque como ferramenta de enfrentamento a emergências, como dívidas e saúde.
Impactos no setor habitacional
FGTS como principal fonte de financiamento
Em 2024, o FGTS destinou R$ 80 bilhões para investimentos habitacionais. A retirada excessiva comprometeria programas como o Minha Casa, Minha Vida, que atende famílias com renda de até R$ 2.640.
Efeitos econômicos
- Redução de empregos na construção civil.
- Aumento dos juros para financiamentos habitacionais.
- Risco à expansão urbana sustentável.
Alternativas em discussão: Programa Crédito do Trabalhador
Lançamento em 2025
Em março de 2025, o governo lançou o Programa Crédito do Trabalhador, uma alternativa ao saque-aniversário com juros reduzidos e acesso desburocratizado ao crédito.
Principais benefícios do programa:
- Juros inferiores aos praticados em antecipações bancárias.
- Menos exigências para aprovação.
- Preservação dos fundos do FGTS para habitação e infraestrutura.
Objetivos do programa
O foco é oferecer recursos rápidos sem comprometer os investimentos estruturais, com meta de atingir 10 milhões de trabalhadores até 2027.
Calendário das mudanças previstas
Etapa | Descrição | Data |
---|---|---|
Lançamento | Programa Crédito do Trabalhador | Março de 2025 |
Audiências Públicas | Participação de setores afetados | Junho de 2025 |
Proposta final | Envio ao Congresso Nacional | Outubro de 2025 |
Implementação | Entrada em vigor das novas regras | Janeiro de 2026 |
Riscos da antecipação desenfreada
Para o trabalhador:
- Perda de saldo para emergências futuras.
- Aumento do endividamento.
- Dependência de crédito com juros mais altos.
Para o país:
- Menor investimento em habitação e infraestrutura.
- Dificuldade no cumprimento de metas sociais, como universalização do saneamento até 2033.
O papel dos bancos e o debate sobre lucros
Em 2024, os bancos movimentaram R$ 10 bilhões com operações de antecipação do saque-aniversário. Essa lucratividade está em risco com a limitação.
Instituições financeiras alegam:
- Estímulo ao consumo.
- Geração de crédito de baixo risco (garantido pelo FGTS).
Críticas apontadas por especialistas:
- Uso inadequado do recurso.
- Falta de educação financeira da população.
- Risco de uso do FGTS para consumo imediato, não investimento.
Educação financeira: peça-chave no processo
Com as mudanças previstas, cresce a necessidade de educar financeiramente os trabalhadores para que compreendam os riscos e as vantagens de cada modalidade. O uso consciente do FGTS pode evitar um ciclo de endividamento e ampliar a segurança econômica da população.
Conclusão: caminhos para o equilíbrio
As mudanças no saque-aniversário do FGTS prometem alterar profundamente o acesso dos brasileiros ao fundo. O governo enfrenta o desafio de equilibrar a proteção do patrimônio coletivo com a necessidade imediata dos trabalhadores por liquidez.
O que está em jogo:
- A sustentabilidade de programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida.
- A autonomia financeira do trabalhador.
- A estabilidade econômica da construção civil, motor de crescimento do país.
Com audiências e debates previstos até o final do ano, a definição final dependerá do diálogo entre governo, trabalhadores, setor produtivo e sistema financeiro. Até lá, milhões de brasileiros acompanham com atenção o futuro do FGTS e de seus próprios recursos.