A tradicional caderneta de poupança registrou um novo saldo negativo em fevereiro de 2025, com retirada líquida de R$ 8,01 bilhões. O resultado, divulgado pelo Banco Central (BC) nesta quarta-feira (12), confirma uma tendência contínua: é o 11º ano consecutivo em que o mês de fevereiro apresenta mais saídas do que entradas na aplicação mais popular do país.
A última vez que o mês teve saldo positivo foi em 2014, quando os depósitos superaram os saques em R$ 1,86 bilhão. De lá para cá, o cenário se inverteu.
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Inflação ainda impacta o poder de compra
Com a inflação acumulada ainda pressionando os orçamentos familiares, muitos brasileiros têm sido forçados a recorrer às economias guardadas na poupança para cobrir despesas básicas. O avanço dos preços nos últimos anos reduziu o poder de compra, e a poupança tornou-se uma alternativa de liquidez rápida.
Taxa Selic em alta favorece outras aplicações
Outro fator relevante é a Taxa Selic, que permanece em patamar elevado. Isso torna investimentos como Tesouro Direto, CDBs, LCIs e LCAs mais atrativos, com rendimentos muito superiores aos oferecidos pela caderneta de poupança. Em comparação, a poupança perde competitividade e deixa de ser vantajosa mesmo para pequenos investidores.
Aumento do endividamento das famílias
Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) mostram que o número de famílias endividadas segue elevado. O saque da poupança é, muitas vezes, uma tentativa de quitar dívidas, evitar juros abusivos e recuperar algum equilíbrio financeiro.
Saldo do 1º bimestre de 2025: segundo pior da história
Em janeiro, os saques já haviam totalizado R$ 26,23 bilhões. Somados aos dados de fevereiro, o saldo líquido negativo da poupança no primeiro bimestre de 2025 chega a impressionantes R$ 34,23 bilhões, o segundo pior resultado da série histórica, atrás apenas de 2023, quando as retiradas chegaram a R$ 45,15 bilhões no mesmo período.
Estoque da poupança em queda: um sinal de alerta?
O estoque total da caderneta — ou seja, o volume de recursos disponíveis — caiu para R$ 1,010 trilhão em fevereiro. Em janeiro, era R$ 1,012 trilhão. Embora ainda represente um montante expressivo, a tendência de retração gera preocupação no setor financeiro, que observa uma mudança clara de comportamento entre os investidores.
Para comparação, em fevereiro de 2024, o estoque era de R$ 969,6 bilhões, o que mostra que, apesar da fuga de recursos, o volume total ainda teve crescimento em relação ao ano anterior, impulsionado por juros e rendimento acumulado.
Rendimento da poupança cresce, mas não convence
O rendimento da caderneta subiu de R$ 5,95 bilhões em janeiro para R$ 6,431 bilhões em fevereiro. Mesmo assim, especialistas afirmam que esse ganho ainda é insuficiente para recuperar o interesse do investidor, já que alternativas de renda fixa proporcionam rentabilidades mais elevadas com riscos semelhantes.
Por que a poupança perdeu sua atratividade?
Comparativo com outras aplicações de renda fixa
Investimento | Rentabilidade média ao ano | Liquidez | Risco |
---|---|---|---|
Poupança | 6,17% a.a. (atrelada à Selic) | Diária (D+0) | Baixo |
CDB 100% CDI | 10,75% a.a. | Diária (D+1) ou vencimento | Baixo (bancos grandes) |
Tesouro Selic | 10,75% a.a. | D+1 | Baixo (títulos do governo) |
LCI/LCA | 10,75% a.a. (isento IR) | 90 dias a 2 anos | Baixo |
A tabela mostra que, mesmo para investidores conservadores, há opções mais rentáveis com segurança semelhante.
O que fazer com o dinheiro da poupança?
Alternativas para quem busca mais rendimento
1. Tesouro Direto
Ideal para quem quer segurança e ganhos maiores. O Tesouro Selic é a porta de entrada para quem deseja migrar da poupança com baixo risco.
2. CDBs com liquidez diária
Disponíveis em plataformas de bancos digitais, esses CDBs pagam até 110% do CDI, superando com folga o rendimento da poupança.
3. Fundos de renda fixa
Outra alternativa são os fundos conservadores que aplicam em títulos públicos e privados, com rentabilidades acima da inflação.
4. LCIs e LCAs
Isentos de Imposto de Renda e com retornos superiores à poupança, são ideais para quem busca mais eficiência tributária.
Comportamento do investidor está mudando
A saída de recursos da poupança também reflete um maior nível de educação financeira entre os brasileiros. Com o avanço da digitalização dos serviços bancários, o acesso a investimentos mais sofisticados se tornou mais fácil e menos custoso. Plataformas digitais como Rico, XP, NuInvest e Inter ampliaram a oferta de produtos e facilitaram a comparação de rentabilidades.
Conclusão: tendência de migração deve continuar
Especialistas do mercado financeiro avaliam que a tendência de descapitalização da poupança deve se manter ao longo de 2025. A combinação de juros altos, inflação persistente e maior acesso a produtos de renda fixa mais rentáveis fará com que a caderneta continue perdendo espaço.
Para o investidor, o momento é oportuno para reavaliar sua estratégia financeira, buscar orientação profissional e diversificar os investimentos, mesmo em perfis conservadores.
Imagem: Freepik e Canva