O mercado de vale-alimentação (VA) e vale-refeição (VR) é uma importante ferramenta para muitos trabalhadores brasileiros, oferecendo um alÃvio nas despesas com alimentação. No entanto, uma série de impasses regulatórios está dificultando a regulamentação desse mercado, o que pode ter impactos diretos tanto sobre a inflação quanto sobre a qualidade dos benefÃcios para os trabalhadores.
O governo Lula vê na regulamentação do vale-alimentação uma oportunidade para combater a alta inflação de alimentos, um dos maiores desafios econômicos atuais. Contudo, o processo de regulamentação tem esbarrado em desacordos entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC), dificultando a implementação das medidas propostas. Vamos entender melhor o que está em jogo nesse impasse e quais os possÃveis desdobramentos.
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O Desafiante Impasse Regulatórios: Fazenda vs Banco Central
O governo federal tem mostrado grande interesse em regulamentar o mercado de vale-alimentação, com o intuito de reduzir a inflação de alimentos e tornar os benefÃcios mais acessÃveis e eficientes. No entanto, o impasse polÃtico que envolve o Ministério da Fazenda e o Banco Central é uma das maiores barreiras para que as medidas avancem.
O Papel do Ministério da Fazenda e a Visão do Banco Central
O Ministério da Fazenda, liderado pelo ministro Fernando Haddad, propôs que o Banco Central assumisse a responsabilidade pela regulamentação do mercado de benefÃcios de alimentação. No entanto, o BC tem resistido a essa proposta, alegando que não possui as condições necessárias para gerir o mercado de vale-alimentação. O Banco Central argumenta que não considera esse mercado um risco para o sistema de pagamentos brasileiro e, por isso, não vê necessidade de intervir de forma direta.
Uma possÃvel alternativa ao impasse seria transferir essa regulamentação para o Conselho Monetário Nacional (CMN), que é composto pelo Banco Central, pelo Ministério da Fazenda e pelo Ministério do Planejamento. O CMN se reúne mensalmente para discutir as polÃticas monetárias do Brasil, incluindo a regulamentação do sistema financeiro.
O que se esperava, com a posse de Gabriel GalÃpolo, novo presidente do Banco Central em janeiro de 2025, era uma resolução rápida do impasse, mas até o momento, o cenário permanece indefinido, com nenhum dos lados cedendo.
O Impacto da Falta de Regulamentação
A falta de regulamentação do mercado de vale-alimentação afeta diretamente as condições de concorrência e a eficiência dos benefÃcios alimentÃcios, que são amplamente utilizados por trabalhadores no Brasil.
O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT)
O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) é um dos pilares desse mercado, proporcionando benefÃcios alimentÃcios para trabalhadores com renda de até cinco salários mÃnimos. Contudo, a adesão ao programa é voluntária para as empresas, que podem deduzir os gastos com os benefÃcios do Imposto de Renda, desde que ofereçam aos seus funcionários refeitórios ou vales-alimentação/refeição.
Atualmente, o PAT alcança cerca de 56% dos trabalhadores sob o regime CLT, segundo dados da CLA Consultoria Econômica. No entanto, esse mercado apresenta diversas limitações, como a não escolha da bandeira de vale-alimentação ou da rede credenciada de estabelecimentos, o que impede uma maior flexibilidade e autonomia para os beneficiários.
Regulamentação como Solução
A regulamentação do mercado de vale-alimentação e vale-refeição poderia reduzir significativamente as taxas cobradas pelas empresas gestoras de benefÃcios, o que, por sua vez, ajudaria a diminuir os preços das refeições oferecidas aos trabalhadores. Isso seria uma medida eficaz para combater a alta inflação de alimentos, que afetou diretamente os consumidores nos últimos anos.
A inflação de alimentos foi um dos maiores desafios em 2024, com o Ãndice de Alimentação e Bebidas subindo 7,69%, enquanto a inflação geral foi de 4,83% no mesmo perÃodo. A regulamentação dos vales pode ter um impacto direto sobre esse cenário.
Propostas de Mudança na Lei do Vale-Alimentação
O governo federal já propôs algumas mudanças na legislação do vale-alimentação, com o objetivo de melhorar sua eficiência e abrangência.
Portabilidade Gratuita e Interoperabilidade
Uma das medidas mais aguardadas é a portabilidade gratuita dos vales-alimentação. Se implementada, essa medida permitiria que os trabalhadores escolhessem a bandeira do cartão de benefÃcios, ao invés de ser uma escolha imposta pelas empresas.
Além disso, a interoperabilidade entre os sistemas de vale-refeição e vale-alimentação seria uma solução importante, permitindo que os consumidores utilizem seus cartões em uma rede mais ampla de estabelecimentos, sem limitações impostas pelas empresas. Essa medida tornaria o mercado mais competitivo e reduziria as taxas cobradas pelos fornecedores de serviços de benefÃcios.
BenefÃcios da Regulamentação para o Setor de Alimentação
A regulamentação não seria benéfica apenas para os trabalhadores, mas também para o setor de bares, restaurantes e supermercados. A redução das taxas cobradas pelas empresas gestoras de benefÃcios teria um impacto direto na diminuição dos preços de refeições e alimentos, beneficiando consumidores e estabelecimentos.
Impacto Econômico do Reduzido Custo de Taxas
De acordo com a pesquisa da LCA Consultoria, uma redução da taxa de vouchers de 7% para 2% poderia gerar uma economia anual de cerca de R$ 5,21 bilhões para o setor de alimentação, o equivalente ao PIB de Olinda (PE). Com a redução das taxas, mais empresas seriam incentivadas a adotar o PAT, o que permitiria incluir até 1,7 milhão de trabalhadores no programa, ampliando a oferta de benefÃcios alimentÃcios no Brasil.
O Papel do Ministério do Trabalho e o Número de Trabalhadores Beneficiados
O Ministério do Trabalho e Emprego estimou que o PAT já beneficia mais de 21,5 milhões de brasileiros, com a maior parte deles recebendo até cinco salários mÃnimos. O aumento no número de empresas que participam do programa pode melhorar a qualidade de vida de milhões de trabalhadores, além de fomentar a inclusão social.
Como a Regulamentação Pode Ajudar
A regulamentação, com a implementação das propostas mencionadas, aumentaria a participação das empresas no PAT e permitiria que os trabalhadores usufruÃssem de um benefÃcio mais competitivo, com menos burocracia e melhores opções de utilização. Isso contribuiria para a redução da desigualdade no acesso aos benefÃcios alimentÃcios.
Conclusão
O impasse entre o Banco Central e o Ministério da Fazenda sobre a regulamentação do mercado de vale-alimentação está atrasando medidas que poderiam ajudar a reduzir a inflação de alimentos e melhorar as condições dos trabalhadores. A proposta de regulamentação, com medidas como a portabilidade gratuita e interoperabilidade entre redes, é uma solução importante para garantir um sistema mais eficiente e acessÃvel para todos.
À medida que o governo avança nas discussões sobre esse tema, é essencial que o Banco Central e o Ministério da Fazenda cheguem a um consenso para viabilizar a regulamentação do mercado de vale-alimentação. Isso não só ajudará a combater a alta dos preços de alimentos, mas também promoverá mais justiça e acessibilidade no uso dos benefÃcios alimentÃcios no Brasil.