O governo federal está reavaliando diversas políticas públicas, buscando torná-las mais justas e eficientes. Entre as principais discussões está a proposta de mudança nas regras do Abono Salarial PIS/Pasep, que poderá ser desvinculado da carteira assinada. A ideia é reformular o benefício de forma que ele alcance mais trabalhadores, especialmente aqueles que se encontram na informalidade.
O que é o Abono Salarial?
O Abono Salarial, também conhecido como PIS/Pasep, é um valor concedido anualmente aos trabalhadores formais que recebem até dois salários mínimos por mês. O montante pode chegar ao valor de um salário mínimo, sendo uma forma de auxílio financeiro para os que têm menor remuneração. Tradicionalmente, o abono é vinculado à formalização do emprego, ou seja, apenas quem tem carteira assinada pode receber o benefício.
Atualmente, os requisitos para o recebimento do PIS/Pasep são:
- Estar cadastrado no programa há pelo menos cinco anos;
- Ter trabalhado formalmente por no mínimo 30 dias no ano-base;
- Ter uma média de renda mensal de até dois salários mínimos durante o período de referência;
- O empregador deve ter informado corretamente os dados do trabalhador no RAIS (Relatório Anual de Informações Sociais).
Entretanto, o governo federal propõe uma alteração nessas regras, visando ampliar o acesso ao benefício.
Proposta de mudança no Abono Salarial
A nova proposta sugere que o Abono Salarial deixe de ser vinculado exclusivamente à carteira assinada. Em vez disso, a ideia é utilizar a renda familiar como critério de concessão, similar ao que ocorre em programas sociais como o Bolsa Família.
Por que essa mudança é necessária?
A justificativa para a alteração é que o atual formato do abono beneficia apenas aqueles que já têm um vínculo formal de trabalho, o que deixa de fora uma grande parcela de trabalhadores informais. Com aproximadamente 50% da força de trabalho brasileira atuando na informalidade, muitas famílias que realmente precisam de auxílio acabam não recebendo o benefício.
Sérgio Firpo, secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas do Ministério do Planejamento, apoia essa mudança. Segundo ele, ao focar na renda per capita familiar, seria possível distribuir o abono de forma mais justa, atingindo quem de fato está em situação de vulnerabilidade, independentemente de estar empregado formalmente ou não.
A informalidade no Brasil
O Brasil enfrenta um grande desafio relacionado à alta taxa de informalidade. Milhões de trabalhadores atuam fora do mercado formal, sem direito a benefícios como o Abono Salarial e o seguro-desemprego, o que cria uma enorme lacuna na proteção social.
Ao basear a concessão do abono na renda familiar e não no emprego formal, o governo pretende ampliar o alcance do benefício, tornando-o mais acessível a trabalhadores informais que muitas vezes têm menor poder aquisitivo.
Como funcionaria o novo critério de renda familiar?
No novo modelo proposto, o Abono Salarial seria concedido de acordo com a renda per capita da família, da mesma forma como é calculado o valor recebido no Bolsa Família. Com essa alteração, espera-se que o benefício chegue de forma mais eficiente às famílias de baixa renda, independentemente de seus membros terem ou não empregos formais.
Revisão do seguro-desemprego
Além da proposta de mudança no Abono Salarial, o governo também está revisando as regras do seguro-desemprego. O seguro-desemprego, atualmente, garante um valor temporário aos trabalhadores demitidos sem justa causa, além de uma multa de 40% sobre o saldo do FGTS.
No entanto, há uma preocupação de que o modelo atual possa, em certos casos, incentivar a rotatividade no emprego. Isso ocorre porque alguns trabalhadores acabam preferindo ser demitidos para receber tanto o seguro-desemprego quanto a multa do FGTS, o que prejudica a estabilidade no mercado de trabalho.
O comportamento paradoxal do seguro-desemprego
No Brasil, o pagamento do seguro-desemprego cresce em períodos de expansão econômica, o que é um comportamento inverso ao observado em outros países. Em situações de crescimento econômico, há mais demissões voluntárias, e isso leva ao aumento do número de trabalhadores que solicitam o benefício.
Especialistas, como Sérgio Firpo, defendem a reestruturação do seguro-desemprego para evitar que ele seja visto como uma vantagem em situações de demissão. A revisão busca assegurar que o benefício seja utilizado como uma rede de proteção em momentos de necessidade, e não como uma estratégia que possa prejudicar a permanência no emprego.
Implicações econômicas
O governo estima que, em 2023, os custos com o Abono Salarial e o seguro-desemprego somem R$ 81,5 bilhões, com previsão de aumentar para R$ 87,5 bilhões em 2024. Essas despesas reforçam a necessidade de uma discussão aprofundada sobre as políticas sociais e sua eficácia.
Expectativa para o PIS/Pasep em 2025
O orçamento federal para 2025 já prevê R$ 30,7 bilhões para o pagamento do PIS/Pasep, o que representa um aumento de 10% em relação ao ano anterior. Com a projeção de que o salário mínimo atinja R$ 1.509,00 em 2025, o Abono Salarial será proporcional aos meses trabalhados no ano-base de 2023, conforme a tabela a seguir:
Meses Trabalhados | Valor do Abono |
---|---|
1 mês | R$ 126 |
2 meses | R$ 251 |
3 meses | R$ 377 |
4 meses | R$ 503 |
5 meses | R$ 630 |
6 meses | R$ 754 |
7 meses | R$ 880 |
8 meses | R$ 1.006 |
9 meses | R$ 1.132 |
10 meses | R$ 1.257 |
11 meses | R$ 1.383 |
12 meses | R$ 1.509 |
Considerações finais
A possível desvinculação do Abono Salarial da carteira assinada e a revisão do seguro-desemprego representam um esforço do governo para modernizar as políticas sociais e torná-las mais inclusivas. Ao focar na renda familiar, o governo pretende alcançar trabalhadores que estão fora do mercado formal, garantindo que os recursos sejam direcionados para quem mais precisa.
Essas mudanças, se aprovadas, podem gerar um impacto positivo tanto na inclusão social quanto na eficiência do uso dos recursos públicos. Contudo, é importante acompanhar de perto o desenrolar dessas propostas para avaliar como elas serão implementadas e quais serão seus efeitos no longo prazo.
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