Em 2024, o Brasil celebra os 21 anos da Lei nº 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas. Desde então, esforços têm sido feitos para promover a equidade no sistema educacional, incluindo a implementação da Educação para as Relações Étnico-Raciais (Erer) e da Educação Escolar Quilombola (EEQ). Este ano, o Ministério da Educação (MEC) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) destinaram R$ 79,7 milhões para essas iniciativas.
Neste artigo, analisamos como esses investimentos têm impulsionado a educação inclusiva e os avanços alcançados na promoção da equidade racial nas escolas brasileiras.
Leia mais:
MEC destina R$ 79,7 mi para promover equidade racial no PaÃs
O marco da Lei nº 10.639/2003
Promulgada em 2003, a Lei nº 10.639 modificou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) para incluir no currÃculo escolar a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. A medida buscava combater o racismo estrutural e valorizar a contribuição das populações afrodescendentes na formação do Brasil.
Objetivos da lei
- Promover o respeito à diversidade cultural.
- Combater preconceitos raciais e estereótipos no ambiente escolar.
- Garantir que os estudantes aprendam sobre as contribuições históricas e culturais das populações africanas e afro-brasileiras.
Investimentos em 2024: recursos direcionados à equidade
Em 2024, os investimentos destinados à educação para as relações étnico-raciais e à educação quilombola somaram R$ 79,7 milhões. Esses recursos foram divididos entre diferentes programas, com foco em beneficiar comunidades vulneráveis e fortalecer a equidade racial no sistema educacional.
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE)
O PDDE destinou R$ 16,2 milhões para iniciativas voltadas à Erer e EEQ, beneficiando 254 mil alunos de escolas quilombolas e outras instituições que atendem comunidades afrodescendentes.
Bolsa-permanência para ensino superior
Estudantes quilombolas e indÃgenas matriculados no ensino superior receberam apoio financeiro por meio da bolsa-permanência. Com um benefÃcio de R$ 1,4 mil mensais, 8.338 estudantes foram contemplados, totalizando R$ 11,6 milhões investidos.
Alimentação escolar
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) adaptou suas diretrizes para atender melhor às necessidades das escolas quilombolas. Em 2024, foram repassados R$ 51,9 milhões para garantir uma nutrição adequada a 267 mil alunos de 2.536 escolas.
PolÃticas públicas para equidade racial
A secretária de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão, Zara Figueiredo, destacou a importância de envolver movimentos negros na definição de orçamentos voltados à educação. Segundo ela, o foco deve ir além do currÃculo, buscando uma gestão que priorize a equidade racial.
A importância do orçamento
“Para implementar polÃticas públicas efetivas, é essencial garantir recursos financeiros que reflitam a necessidade de equidade racial”, afirmou a secretária durante o 3º Seminário Escola sem Racismo, realizado em Jaboatão dos Guararapes (PE).
Avanços na implementação da educação étnico-racial
Em novembro de 2024, o MEC divulgou um diagnóstico inédito sobre a implementação da Educação para as Relações Étnico-Raciais e da Educação Escolar Quilombola no Brasil. A pesquisa, realizada como parte da PolÃtica Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (Pneerq), contou com a participação de todas as secretarias estaduais de educação e de 5.474 secretarias municipais, alcançando uma taxa de resposta de 98%.
Principais resultados
- Identificação de áreas que necessitam de mais atenção e recursos.
- Monitoramento das ações implementadas nos últimos dois anos.
- Planejamento de novas iniciativas baseadas nos resultados do diagnóstico.
Desafios e próximos passos
Embora os avanços sejam notáveis, ainda há muito a ser feito para garantir a plena implementação da educação étnico-racial e quilombola no Brasil. A aplicação de recursos de maneira estratégica e o acompanhamento contÃnuo das polÃticas são essenciais para alcançar resultados mais expressivos.
Reaplicação do diagnóstico
A pesquisa realizada pelo MEC será repetida a cada dois anos, permitindo que os gestores monitorem o progresso e ajustem as ações conforme necessário.
Educação escolar quilombola: um pilar da inclusão
A educação escolar quilombola tem como objetivo atender às especificidades culturais, históricas e sociais das comunidades quilombolas. Esse modelo educacional é fundamental para preservar a identidade cultural e os direitos dessas comunidades.
Desafios enfrentados
- Infraestrutura precária em muitas escolas quilombolas.
- Necessidade de formação continuada para professores que atuam nessas comunidades.
- Garantia de transporte e alimentação adequados.
O impacto da educação para as relações étnico-raciais
A implementação da Erer visa transformar o ambiente escolar em um espaço de respeito à diversidade e combate ao racismo. Além disso, ela busca conscientizar os estudantes sobre as contribuições das culturas africana e afro-brasileira para a sociedade.
Conclusão
Duas décadas após a promulgação da Lei nº 10.639/2003, o Brasil avança na implementação de polÃticas de equidade racial na educação. Os investimentos de R$ 79,7 milhões em 2024 são um reflexo do compromisso do MEC e do FNDE com a promoção de uma educação inclusiva e de qualidade. Apesar dos desafios, os resultados obtidos nos últimos anos mostram que é possÃvel construir um sistema educacional mais justo e diverso.
Com o fortalecimento de programas como o PDDE e o Pnae, e a ampliação da bolsa-permanência, o Brasil dá passos importantes na valorização das comunidades quilombolas e afrodescendentes. O compromisso com a educação étnico-racial deve continuar a ser uma prioridade para garantir a igualdade de oportunidades e o respeito à diversidade cultural em todas as escolas do paÃs.