Os empréstimos ficaram mais caros no início de 2025. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central (BC) no último dia 13 de março, os juros bancários médios cobrados em operações de crédito livre atingiram 42,3% ao ano em janeiro. O aumento representa um acréscimo de 1,6 ponto percentual (p.p) em relação a dezembro e de 4,6 p.p em comparação ao mesmo mês de 2024.
O encarecimento do crédito afeta diretamente as famílias brasileiras, que já enfrentam altos níveis de endividamento. Nas operações específicas com pessoas físicas, o custo médio dos empréstimos chegou a 53,9% ao ano, alta de 0,8 p.p no mês e 1,6 p.p em 12 meses.
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Por que os juros estão subindo?
Crédito pessoal e cartão de crédito lideram alta
O aumento das taxas foi impulsionado, principalmente, pela elevação nos juros do crédito pessoal não consignado vinculado à composição de dívidas (+5,3 p.p), seguido por financiamento de veículos (+2,0 p.p).
Outro fator de pressão sobre as taxas foi o crescimento da participação do cartão de crédito rotativo, modalidade com uma das maiores taxas do mercado.
Empresas também sentem os efeitos
As empresas não ficaram de fora: o custo médio do crédito empresarial alcançou 24,2% ao ano, refletindo altas expressivas em modalidades como:
- Cartão de crédito rotativo para empresas: +103,1 p.p;
- Capital de giro até 365 dias: +9,3 p.p;
- Capital de giro acima de 365 dias: +1,7 p.p.
Saldo de crédito no país se estabiliza, mas famílias puxam alta
Mesmo com o aumento dos juros, o saldo total das operações de crédito no país permaneceu estável, fechando janeiro em R$ 6,5 trilhões.
Crédito para pessoas físicas cresce mais
- Famílias: avanço de 1,2% no mês, totalizando R$ 4 trilhões;
- Empresas: queda de 1,8%, com saldo de R$ 2,5 trilhões.
Em 12 meses, o crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu 11,7%, com destaque para:
- Famílias: +12,7%;
- Empresas: +10,2%.
Crédito livre x crédito direcionado
Crédito com recursos livres
O crédito livre — aquele em que os bancos têm autonomia para definir taxas — somou R$ 3,7 trilhões em janeiro, com leve recuo de 0,5% no mês.
Desempenho por segmento:
- Famílias: alta de 1,4% (R$ 2,2 trilhões);
- Empresas: queda de 3,2% (R$ 1,5 trilhão).
As modalidades com maior crescimento entre pessoas físicas foram:
- Crédito pessoal não consignado: +2,6%;
- Financiamento de veículos: +2,0%;
- Consignado do INSS: +2,3%;
- Cartão de crédito rotativo: +6,7%.
Crédito com recursos direcionados
O crédito direcionado, que segue regras do governo, alcançou R$ 2,7 trilhões, alta de 0,9% no mês.
Por segmento:
- Empresas: R$ 901,7 bilhões (+0,6% no mês);
- Famílias: R$ 1,8 trilhão (+1,0%).
Inadimplência segue em alta com pressão sobre orçamento familiar
Em janeiro, a inadimplência total do crédito no país — considerando atrasos superiores a 90 dias — chegou a 3,2%, uma alta mensal de 0,3 p.p.
Destaques por segmento:
- Crédito livre geral: inadimplência de 4,4%;
- Famílias: 5,5% de inadimplência no crédito livre;
- Empresas: 2,8%.
Esses números revelam um alerta para o aumento do risco de calote diante do maior custo de financiamento.
Endividamento e comprometimento da renda atingem novos patamares
Famílias estão cada vez mais pressionadas
O endividamento das famílias chegou a 48,3% em dezembro, mantendo-se estável em relação ao mês anterior, mas com crescimento de 0,6 p.p em relação a 2023.
Renda cada vez mais comprometida
O comprometimento da renda com dívidas subiu para 26,8%, o maior nível desde outubro de 2023. A elevação representa uma reversão na tendência de queda que vinha desde setembro do ano anterior.
Crédito ampliado ao setor não financeiro também apresenta retração
Em janeiro, o crédito ampliado ao setor não financeiro somou R$ 18,5 trilhões (155,6% do PIB), com queda de 0,8% no mês, puxada pela apreciação do real e retração nas captações externas.
Empresas e famílias
- Empresas: R$ 6,6 trilhões (-1,9% no mês);
- Famílias: R$ 4,3 trilhões (+1,1% no mês).
Conclusão: crédito mais caro e risco maior para o consumidor
O aumento expressivo dos juros bancários em 2025 representa um novo desafio para o orçamento das famílias e o planejamento financeiro das empresas. Com inadimplência em alta, renda comprometida e crédito mais restrito, especialistas alertam para a necessidade de educação financeira, planejamento e análise criteriosa antes de qualquer contratação de empréstimo.
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