A proposta de isentar do Imposto de Renda (IR) aqueles que recebem até R$ 5 mil mensais tem ganhado grande destaque no cenário tributário brasileiro. A medida, que já está sendo discutida e deve ser formalizada em breve, promete aliviar a carga tributária de milhões de trabalhadores, gerando um impacto direto no orçamento familiar. Embora essa isenção traga benefícios para os contribuintes, seu efeito nas finanças públicas precisa ser analisado com cautela. Com uma redução estimada de até R$ 45 bilhões na arrecadação, a medida pode provocar ajustes fiscais importantes no futuro.
Neste artigo, vamos entender como essa isenção pode beneficiar quem ganha até R$ 5 mil por mês, seus impactos na economia, e quais os desafios que ela traz para o governo.
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Como funciona a tributação atual
O Imposto de Renda no Brasil segue uma tabela progressiva, ou seja, a alíquota do imposto aumenta conforme o valor da renda mensal. Para quem recebe até R$ 5 mil mensais, a alíquota máxima de 27,5% é aplicada. Isso significa que, para uma pessoa que ganhe R$ 5.000, a dedução mensal do imposto de renda é de R$ 489,04. Após a dedução do INSS, o valor líquido chega a R$ 4.120,57, o que representa uma perda significativa no orçamento mensal.
No entanto, com a proposta de isenção, aqueles que ganham até R$ 5 mil deixariam de pagar essa quantia, resultando em um aumento direto no salário líquido. Dependendo das deduções aplicáveis, esse valor pode variar entre R$ 400 a R$ 500 mensais.
O que a isenção de IR pode representar para o contribuinte
Para os contribuintes que estão nessa faixa salarial, a isenção de IR pode significar um alívio financeiro significativo. Segundo Rodrigo Schwartz, professor do Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET), a medida é especialmente relevante para trabalhadores assalariados que estão na faixa intermediária da tabela do IR. A eliminação do imposto pode gerar uma economia mensal importante, especialmente para aqueles com salários que ficam logo abaixo da faixa de isenção.
A estimativa do economista Gabriel Fongaro, do Julius Baer Brasil, é de que a isenção pode gerar um aumento de até 20% no salário líquido, dependendo da faixa salarial e das deduções aplicáveis. Para aqueles que recebem R$ 5.000, isso representa um aumento de R$ 400 a R$ 500 por mês, um valor que pode ser decisivo para muitas famílias.
O impacto nos cofres públicos
Embora a isenção tenha grande potencial para beneficiar o contribuinte, ela também pode ter um impacto substancial nas finanças públicas. A Receita Federal estima que a implementação da isenção para rendas de até R$ 5 mil custará cerca de R$ 45 bilhões, o que representa aproximadamente 1,94% da arrecadação total de 2023, que foi de R$ 2,318 trilhões.
Esse impacto na arrecadação precisa ser cuidadosamente planejado. O advogado tributarista Leonardo Branco alerta que a perda de receita é significativa e exigirá ajustes fiscais para evitar desequilíbrios. Ele sugere que a medida deve ser acompanhada por um planejamento financeiro adequado, com a busca por fontes alternativas de receita ou ajustes no orçamento federal.
“A redução na arrecadação é muito expressiva. O governo precisa compensar essa perda de receita, seja por meio de outras fontes de tributação, seja com cortes em áreas menos prioritárias”, afirma Branco.
Comparações internacionais
Ao analisar a isenção proposta no Brasil, vale a pena fazer uma comparação com outros países que adotam sistemas progressivos de imposto de renda. Nos Estados Unidos, por exemplo, a legislação prevê deduções amplas, que diminuem significativamente o valor devido por pessoas com rendas médias e baixas. Na França, o sistema progressivo também permite que uma parte significativa da população com rendas baixas fique isenta de pagar impostos.
Esses exemplos internacionais mostram que a isenção de IR para rendas mais baixas é uma medida comum em países com economias mais desenvolvidas. A tabela do Imposto de Renda no Brasil, no entanto, está desatualizada e exige ajustes para se tornar mais justa e progressiva. A proposta de isenção para quem ganha até R$ 5 mil é um passo importante nessa direção.
Benefícios esperados para a economia
Além de beneficiar diretamente os contribuintes, a isenção de IR pode ter impactos positivos na economia do país como um todo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ressaltou que essa medida faz parte de um esforço maior para tornar o Brasil mais justo, ao mesmo tempo que incentiva o consumo e o empreendedorismo.
“Com menos imposto e mais dinheiro no bolso, o cidadão pode investir no seu pequeno negócio, impulsionar o comércio no seu bairro e ajudar a sua cidade a crescer”, afirmou Haddad.
A isenção também pode estimular o consumo, uma vez que, ao aumentar a renda disponível, as famílias tendem a gastar mais em bens e serviços. Setores como varejo, alimentação e educação podem se beneficiar dessa movimentação na economia local, estimulando o crescimento econômico e o fortalecimento de pequenas empresas.
Desafios e perspectivas
Embora a isenção de IR seja uma medida vantajosa para os contribuintes, ela também apresenta desafios fiscais significativos. A redução da arrecadação exigirá compensações, como o aumento da carga tributária para faixas mais altas de rendimento, ou a revisão de subsídios e incentivos fiscais existentes. Especialistas recomendam que a isenção seja parte de uma reforma tributária mais ampla, que inclua a simplificação do sistema fiscal, a redução da evasão tributária e o aumento da progressividade das alíquotas.
Rodrigo Schwartz destaca que, sem ajustes estruturais, os benefícios da isenção podem ser diluídos ao longo do tempo, especialmente se o governo não conseguir equilibrar o orçamento de maneira eficaz.
“A isenção é importante, mas precisa fazer parte de um pacote maior que aborde as desigualdades no sistema tributário brasileiro”, afirma Schwartz.
Considerações finais
A proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais representa uma mudança significativa na tributação brasileira, com um impacto direto no bolso de milhões de brasileiros. A medida promete aliviar a carga tributária de trabalhadores e fortalecer o poder de compra, beneficiando a economia local e estimulando o consumo.
No entanto, seu impacto fiscal exige um planejamento cuidadoso por parte do governo, com a busca por formas de compensar a perda de receita e garantir a sustentabilidade financeira do país. Se implementada de forma responsável, essa medida pode ser um passo importante para um sistema tributário mais justo e eficiente no Brasil.