A inflação no Brasil apresentou desaceleração em março de 2025, mas alimentos como o tomate, o ovo de galinha e o café moído continuam sendo os vilões do mês. Juntos, esses três produtos representaram um quarto de toda a inflação registrada no período, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, ficou em 0,56% em março, abaixo dos 0,83% observados em fevereiro, mas ainda reflete a pressão que itens essenciais exercem sobre o orçamento das famílias brasileiras.
A inflação acumulada em 12 meses agora atinge 5,48%, superior aos 5,06% registrados no acumulado até fevereiro. O cenário coloca mais um desafio à política monetária, que busca ancorar a inflação dentro da meta de 3% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
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Alimentos voltam a liderar alta dos preços
O grupo de Alimentação e Bebidas teve alta de 1,17% em março, sendo o que mais contribuiu para o índice geral, com impacto de 0,25 ponto percentual no IPCA. Entre os alimentos, três produtos concentraram grande parte dessa alta: tomate, ovo de galinha e café moído.
A disparada do preço do tomate
O tomate teve uma elevação expressiva de 22,55% em março, sendo o principal responsável pela pressão inflacionária no grupo de alimentos. O aumento se deve a uma combinação de fatores sazonais e climáticos. Nas principais regiões produtoras, o calor fora de época e a estiagem aceleraram o processo de maturação, o que levou a uma antecipação da colheita e a um esvaziamento da oferta no mercado em março.
Como consequência, a menor disponibilidade do produto elevou os preços rapidamente. Esse tipo de variação costuma ter forte impacto na inflação, já que o tomate é amplamente consumido por famílias de diferentes faixas de renda e integra a base alimentar dos brasileiros.
O ovo de galinha e a alta sazonal
O segundo destaque foi o ovo de galinha, que registrou aumento de 13,13%. A explicação para essa alta está associada ao período da Quaresma, quando há uma mudança no padrão de consumo alimentar, com redução da ingestão de carnes e aumento na procura por ovos, que são uma fonte de proteína mais acessível.
Além da demanda, o custo da ração animal, em especial do milho e da soja, também influencia o preço final. Com o encarecimento dos insumos, os produtores acabam repassando parte dos custos ao consumidor, o que pressiona os preços nos supermercados.
Café moído: fatores externos e internos
O café moído teve alta de 8,14% no mês. A elevação foi motivada pela redução da oferta no mercado internacional. O Vietnã, segundo maior produtor global, enfrentou problemas climáticos que afetaram a produtividade, o que influenciou os preços do grão no mundo todo. No Brasil, a colheita atrasada e os estoques mais baixos nas principais regiões cafeeiras também contribuíram para o aumento dos preços.
O café é um produto que compõe o hábito diário do brasileiro, e seu encarecimento impacta diretamente o consumo das famílias e dos estabelecimentos comerciais.
Outros produtos com aumento de preços
Embora tomate, ovo e café tenham concentrado grande parte da inflação de março, outros itens também apresentaram aumento, como:
- Arroz (2,09%)
- Frutas (1,78%)
- Leite longa vida (1,10%)
- Queijo (0,94%)
Esses aumentos generalizados reforçam o peso do grupo Alimentação e Bebidas no IPCA do mês.
Itens que tiveram queda de preços
Nem todos os alimentos subiram. Alguns produtos registraram retração de preços e contribuíram para conter o avanço do índice:
- Cenoura (-8,40%)
- Cebola (-7,90%)
- Frango em pedaços (-1,34%)
- Açúcar cristal (-0,92%)
Essas quedas, no entanto, não foram suficientes para neutralizar o impacto das altas mais expressivas.
Outros grupos do IPCA em março de 2025
Além da alimentação, outros grupos também apresentaram variações:
Transportes
O grupo teve alta de 0,46%, com destaque para os combustíveis. A gasolina subiu 0,42% e o etanol 0,75%, refletindo os reajustes nos preços praticados pelas distribuidoras. Passagens aéreas subiram 1,02% e continuam sendo influenciadas pela demanda acumulada dos primeiros meses do ano.
Saúde e cuidados pessoais
Registrou alta de 0,43%, com elevação nos preços de produtos de higiene e medicamentos. Esse grupo já começa a sentir os efeitos dos reajustes autorizados para abril, que normalmente antecipam movimentações de mercado.
Vestuário
O setor teve alta de 0,59%, em função da troca de coleção nas lojas e da reposição de estoques com itens da estação outono-inverno. Os aumentos mais expressivos foram verificados em roupas femininas e infantis.
Habitação
Apresentou variação de 0,24%. A energia elétrica teve queda em algumas regiões, enquanto o gás de botijão teve alta de 0,86%, mantendo a tendência dos meses anteriores.
Inflação por regiões do país
O IPCA é calculado com base em 16 regiões metropolitanas. Em março, as maiores variações ocorreram em:
- Fortaleza: 0,82%
- Rio de Janeiro: 0,78%
- Porto Alegre: 0,71%
- São Paulo: 0,61%
A menor variação foi registrada em Salvador, com 0,34%, impactada pela queda no preço da energia elétrica e do transporte urbano.
Inflação acumulada e o impacto sobre o consumidor
Com o resultado de março, o IPCA acumula alta de 2,04% no ano e de 5,48% nos últimos 12 meses. O índice acima da meta preocupa, principalmente em um contexto de fragilidade da renda das famílias, que ainda enfrentam consequências da desaceleração econômica e do endividamento.
Os alimentos continuam sendo os principais vilões, comprometendo grande parte do orçamento das famílias de baixa renda. Quando itens básicos como tomate, ovo e café sofrem reajustes significativos, o impacto é imediato e percebido diretamente na rotina do consumidor.
Perspectivas para os próximos meses
Economistas acreditam que a inflação deva se manter pressionada no curto prazo, principalmente pelo comportamento dos alimentos. A expectativa é que as condições climáticas se estabilizem no segundo trimestre e permitam uma melhora na oferta de produtos agrícolas.
A política monetária, por sua vez, deverá seguir em compasso de espera. O Banco Central já sinalizou que eventuais cortes na taxa Selic dependerão da convergência dos preços para o centro da meta. A manutenção dos juros em patamar elevado é uma estratégia para conter a propagação dos aumentos de preços para outros setores da economia.
Conclusão
A inflação de março de 2025 mostra que, mesmo com uma leve desaceleração, os alimentos continuam sendo o principal fator de pressão sobre o índice. Produtos como tomate, ovo de galinha e café moído não apenas registraram altas expressivas como também tiveram grande influência no resultado do IPCA do mês.
Com o IPCA acumulado em 12 meses acima do teto da meta, o desafio do governo e do Banco Central será manter a credibilidade da política econômica sem prejudicar o consumo das famílias. Ao mesmo tempo, o consumidor precisa redobrar a atenção com os gastos, buscar alternativas mais acessíveis e acompanhar de perto os reajustes dos produtos essenciais.