Um levantamento recente do Semesp, entidade que representa as mantenedoras de ensino superior no Brasil, trouxe um dado surpreendente: as pessoas com 60 anos ou mais foram o único grupo etário a registrar crescimento nas matrÃculas de cursos presenciais em instituições privadas entre 2013 e 2023.
Ainda que representem apenas 0,4% dos estudantes em cursos presenciais e 0,8% nos cursos à distância (EAD), os idosos vêm ganhando espaço no ambiente universitário. Mais do que uma mudança estatÃstica, esse movimento reflete transformações culturais, sociais e tecnológicas no Brasil.
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Crescimento das matrÃculas presenciais entre idosos
Um aumento contra a maré
Enquanto outros grupos etários registraram queda expressiva nas matrÃculas em cursos presenciais, os idosos tiveram um aumento de 22,1%, passando de 10.377 para 12.669 alunos entre 2013 e 2023.
Comparativo com outras faixas etárias (2013-2023):
- Até 24 anos: queda de 17,5%;
- 25 a 29 anos: queda de 40,1%;
- 30 a 34 anos: queda de 52,7%;
- 35 a 39 anos: queda de 37,6%;
- 40 a 49 anos: queda de 14,2%;
- 50 a 59 anos: queda de 10,7%.
Esses números revelam que o grupo da terceira idade é o único a ir na contramão da tendência de queda nos cursos presenciais.
Crescimento ainda mais expressivo no EAD
Educação digital atrai novos perfis
Se os dados dos cursos presenciais já chamam atenção, no ensino à distância o fenômeno é ainda mais marcante. As matrÃculas de idosos no EAD aumentaram 672,4% em dez anos, saltando de 5.107 para 39.448 estudantes.
Esse crescimento foi o mais alto entre todas as faixas etárias, 154 pontos percentuais acima da segunda colocada (até 24 anos, com aumento de 518,3%).
Crescimento das matrÃculas EAD por faixa etária (2013-2023):
- Até 24 anos: +518,3%;
- 25 a 29 anos: +352,8%;
- 30 a 34 anos: +265,3%;
- 35 a 39 anos: +324,1%;
- 40 a 49 anos: +388,5%;
- 50 a 59 anos: +379,4%;
- 60 anos ou mais: +672,4%.
Mudança no perfil do estudante universitário
Fatores que explicam a chegada da terceira idade ao ensino superior
Vários fatores explicam esse avanço dos idosos na educação superior, entre eles:
1. Maior expectativa de vida
Com o aumento da longevidade, muitos buscam manter-se ativos intelectualmente e socialmente, enxergando na universidade uma oportunidade de crescimento pessoal.
2. Democratização da educação
A expansão do EAD e a ampliação do acesso à s tecnologias digitais abriram portas para perfis que antes não conseguiam frequentar a faculdade, seja por limitações fÃsicas, financeiras ou geográficas.
3. Redefinição da velhice
A visão da velhice como fase de passividade vem mudando. Muitos idosos estão reinventando suas trajetórias e encontrando na educação uma nova missão.
4. Realização de sonhos antigos
Em muitos casos, trata-se de uma segunda chance. Muitos idosos não puderam cursar uma graduação na juventude e agora realizam esse sonho.
Ensino presencial em queda, EAD em alta
Mudança estrutural no sistema de ensino
O crescimento dos cursos EAD não se restringe aos idosos. O ensino à distância como um todo cresceu 326% entre 2013 e 2023, enquanto os cursos presenciais caÃram 29,1%.
Somente entre 2022 e 2023, as matrÃculas em EAD aumentaram 13,4%, chegando a 4,91 milhões de estudantes — 49,3% do total no paÃs.
Apesar disso, especialistas do Semesp apontam uma desaceleração nesse ritmo de crescimento. Em 2020, por exemplo, a alta foi de 26,8%.
MEC suspendeu novos cursos EAD
Outro ponto de destaque é a decisão do Ministério da Educação (MEC) de suspender a criação de novos cursos à distância até março de 2025 — prazo que foi recentemente estendido por mais um mês.
A medida visa reavaliar a qualidade dos cursos oferecidos nessa modalidade, o que pode impactar diretamente o futuro da educação digital no Brasil.
Idosos na universidade: impacto social e cultural
Quebra de estigmas e inclusão geracional
A presença crescente de idosos nas universidades tem impactos positivos que vão muito além dos números. Trata-se de um importante sÃmbolo de inclusão etária e de valorização da educação ao longo da vida.
Essa presença contribui para:
- Enriquecer as discussões acadêmicas com experiências de vida diversas;
- Promover a convivência entre gerações;
- Combater o preconceito etário;
- Estimular polÃticas de acolhimento e acessibilidade nas instituições.
Dados reforçam necessidade de polÃticas educacionais inclusivas
Com os dados do Mapa do Ensino Superior 2024, torna-se evidente que polÃticas voltadas à inclusão dos idosos no ambiente universitário precisam ser fortalecidas.
Ações como:
- Programas de bolsas voltadas para a terceira idade;
- Adaptação de materiais didáticos;
- Apoio psicológico e social nas universidades;
- Capacitação de professores para lidar com públicos diversos;
são fundamentais para garantir a permanência e o sucesso desses estudantes.
Considerações finais
O aumento expressivo da presença de idosos no ensino superior é um retrato de um Brasil que envelhece, mas que também se reinventa. A educação, nesse contexto, surge como ponte entre gerações, como caminho de realização e como instrumento de cidadania ativa.
Mais do que uma tendência, trata-se de uma mudança estrutural na forma como a sociedade enxerga o envelhecimento e o papel da educação na vida adulta.
Imagem: Freepik