O avanço da inteligência artificial (IA) no Brasil é inegável. Ferramentas como o ChatGPT e outras soluções generativas têm ganhado espaço no dia a dia dos brasileiros, auxiliando em tarefas profissionais, estudos e até em atividades pessoais. No entanto, esse crescimento revela um contraste preocupante: o acesso à inteligência artificial ainda está profundamente marcado pelas desigualdades sociais.
Segundo uma pesquisa da HSR Specialist Researchers, 84% dos brasileiros com idade entre 25 e 34 anos já usaram alguma ferramenta de inteligência artificial.
Entre as classes sociais, a disparidade é evidente: enquanto 95% dos entrevistados da classe A já experimentaram plataformas de IA, apenas 61% das pessoas pertencentes às classes C2, D e E relataram o mesmo. Essa diferença mostra que, embora a tecnologia esteja cada vez mais popular, ainda existe um abismo digital que precisa ser superado.
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ChatGPT lidera uso entre os brasileiros
Responsável por dar início à era da inteligência artificial generativa moderna, o ChatGPT é atualmente a ferramenta de IA mais utilizada no Brasil. Com linguagem natural, interface acessível e suporte ao português, o chatbot da OpenAI conquistou os usuários brasileiros.
Integração com redes sociais favorece o crescimento da MetaAI
Logo atrás do ChatGPT está o MetaAI, solução desenvolvida pela Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp). O diferencial está justamente na integração com o WhatsApp — aplicativo amplamente utilizado no Brasil e, muitas vezes, incluso nos pacotes de internet móvel.
Essa acessibilidade contribui diretamente para ampliar o alcance da inteligência artificial, especialmente entre os usuários das classes mais baixas, que costumam contar com pacotes de dados limitados.
Barreiras sociais ainda dificultam acesso igualitário à IA
Internet móvel limitada é obstáculo importante
Embora o Brasil esteja entre os países com maior número de smartphones por habitante, o uso da IA continua restrito. Muitos pacotes de dados oferecidos por operadoras incluem acesso apenas a redes sociais, impedindo que o usuário navegue livremente por plataformas que consomem mais banda, como as ferramentas de inteligência artificial.
“Muitos planos de internet móvel oferecem dados apenas para redes sociais, tornando o uso de IAs custoso, já que consome dados não incluídos nos pacotes contratados”, explica Vitor Elman, membro do Comitê de Inteligência Artificial da IAB Brasil.
Barreiras linguísticas também dificultam inclusão
Outro fator limitante é o idioma. Algumas ferramentas — como o Midjourney, especializada em geração de imagens — operam exclusivamente em inglês, tornando a experiência inacessível para quem não domina a língua.
Mesmo com avanços na tradução automática e suporte a múltiplos idiomas, a inclusão linguística ainda é um desafio importante a ser enfrentado.
Percepção da população: maioria vê a inteligência artificial com bons olhos
Apesar das barreiras, a população brasileira demonstra otimismo em relação à inteligência artificial. A pesquisa da HSR apontou que:
- 73% acreditam que a IA terá impacto positivo no mercado de trabalho;
- 70% esperam melhorias em suas vidas pessoais graças à IA.
Essa percepção contrasta com os receios iniciais sobre substituição de mão de obra. Para muitos, a inteligência artificial pode ser uma aliada, e não uma ameaça.
“A IA generativa é, de fato, uma ferramenta poderosa que, embora ainda esteja em fase inicial de implementação no país, já começa a mostrar seu valor”, afirma Bruno Nunes, CEO da Base39.
Inclusão digital precisa acompanhar o avanço da tecnologia
Democratização da IA depende de políticas públicas e infraestrutura
Para que o crescimento da inteligência artificial no Brasil seja justo e inclusivo, é fundamental investir em infraestrutura digital e políticas públicas que garantam acesso à tecnologia.
Programas de ampliação de internet gratuita, educação digital e tradução de plataformas são medidas urgentes para reduzir o abismo tecnológico.
“Não basta injetar bilhões em uma tecnologia promissora sem considerar suas ramificações na sociedade. O futuro da inteligência artificial é brilhante, mas também deve ser justo e inclusivo para todos”, afirma Nunes.
Caminhos para tornar a inteligência artificial mais acessível no Brasil
IA via aplicativos populares pode ser solução a curto prazo
A integração da inteligência artificial com plataformas populares e já incluídas em pacotes de dados, como WhatsApp e Facebook, pode ser uma solução viável para alcançar mais pessoas em menos tempo.
Treinamento e educação digital como estratégias de inclusão
Outro caminho essencial é o investimento em capacitação digital, especialmente em comunidades periféricas. A alfabetização digital precisa incluir o uso de ferramentas de inteligência artificial e deve ser pensada desde o ensino básico.
Suporte em português e comandos acessíveis facilitam o uso
Ferramentas com comandos em português e interfaces intuitivas podem facilitar a familiarização com a inteligência artificial, especialmente entre idosos, trabalhadores informais e pessoas com pouca escolaridade.
Conclusão: IA no Brasil precisa ser inclusiva para ser transformadora
O avanço da inteligência artificial no Brasil é inegável e promissor. No entanto, sua verdadeira revolução só acontecerá quando as barreiras sociais forem efetivamente superadas. O desafio é transformar o potencial da inteligência artificial em benefício coletivo — e isso passa necessariamente pela inclusão digital, equidade de acesso e educação tecnológica.
Imagem: Freepik e Canva