O chamado “golpe do print” está ganhando espaço entre os crimes digitais cometidos no Brasil. Trata-se da falsificação de capturas de tela (ou prints) de conversas, recibos bancários, comprovantes de pagamento e outros tipos de documentos, com o intuito de enganar vítimas e aplicar golpes — especialmente via aplicativos de mensagens e redes sociais.
Nesse contexto, acompanhe a leitura deste artigo abaixo para entender o funcionamento dessa fraude, o perigo que ela apresenta e como você pode identificar esse golpe.
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Como o golpe do print funciona?
Alteração de conteúdo via navegador
A técnica mais comum usada pelos golpistas é simples, mas eficaz: ao abrir um navegador como o Google Chrome ou o Microsoft Edge, eles utilizam a função “Inspecionar” (ou “Inspect Element”) para alterar temporariamente o conteúdo de uma página da web. Isso pode ser feito, por exemplo, em sites de bancos ou versões web do WhatsApp.
Basta o fraudador modificar o que aparece na tela — como valores, datas ou nomes — e capturar um print. O resultado é uma imagem aparentemente verdadeira, mas que esconde informações manipuladas.
Exemplo prático
Uma pessoa pode abrir o WhatsApp Web, alterar uma mensagem enviada por outra pessoa, e tirar um print como se aquela mensagem tivesse sido realmente enviada. O mesmo vale para extratos bancários, onde o criminoso pode modificar o valor de um depósito e enviar o print como “comprovante”.
Por que o golpe do print é perigoso?
Prints não são provas definitivas
A captura de tela, por sua própria natureza, é uma imagem estática. Ela não possui autenticação, histórico ou assinatura digital. Isso torna qualquer print uma “prova” muito frágil — e, portanto, passível de falsificação.
Golpes financeiros e danos à reputação
Esse tipo de golpe pode ser usado em diversas situações:
- Venda de produtos: o criminoso envia um “comprovante” de pagamento falso.
- Disputas judiciais: prints adulterados são usados como supostas provas.
- Extorsão e chantagem: falsificação de mensagens para prejudicar alguém.
Como identificar um print falso?
1. Verifique a qualidade da imagem
Imagens adulteradas geralmente apresentam pequenas falhas de resolução, desalinhamentos ou trechos embaçados, especialmente nas áreas que foram modificadas.
2. Fique atento à tipografia
Mudanças na fonte, espaçamento irregular entre letras ou palavras desalinhadas podem indicar manipulação. Mesmo que sutil, esses detalhes costumam passar despercebidos pelos golpistas menos experientes.
3. Cheque a consistência visual
Observe se há elementos gráficos fora do padrão do aplicativo ou site original. Ícones deslocados, erros de formatação e símbolos inexistentes são pistas de falsificação.
4. Compare com o app original
Se você recebeu um comprovante bancário, entre no aplicativo do banco e verifique se a transação realmente foi realizada. Jamais confie apenas na imagem recebida.
5. Solicite arquivos em formatos seguros
Peça sempre comprovantes em formatos como PDF, gerados diretamente pelo sistema, com autenticação e, se possível, senha de acesso. Arquivos em PDF são mais difíceis de falsificar sem deixar rastros.
Como se proteger do golpe do print?
1. Desconfie de prints como única prova
Se a única confirmação de um pagamento ou informação vem de um print, ligue o alerta. Nunca envie produtos ou libere acesso a serviços com base apenas em capturas de tela.
2. Exija métodos oficiais de confirmação
No caso de pagamentos, utilize sempre métodos que ofereçam rastreamento oficial: transferências via Pix com identificação do recebedor, boletos registrados ou comprovantes enviados diretamente pelo app do banco.
3. Conheça o recurso “Inspecionar” dos navegadores
Ter consciência de como o golpe funciona é uma das formas mais eficazes de prevenção. O recurso “Inspecionar” permite alterar qualquer conteúdo exibido na tela, mas não afeta o servidor — ou seja, as mudanças são apenas visuais.
4. Denuncie e registre ocorrência
Caso você seja vítima de uma tentativa de golpe com prints falsificados, registre um boletim de ocorrência. Isso pode ser feito inclusive online, por meio das delegacias virtuais de crimes cibernéticos.
Quem são os principais alvos desse golpe?
1. Vendedores online
Pessoas que anunciam produtos em marketplaces, redes sociais ou grupos de WhatsApp são frequentemente enganadas por comprovantes falsos enviados por print.
2. Profissionais autônomos
Prestadores de serviço também são alvos fáceis. O cliente finge ter feito o pagamento, envia um print falso e desaparece após o serviço ser entregue.
3. Empresas de pequeno porte
Negócios que operam informalmente e não usam sistemas de pagamento integrados podem sofrer prejuízos com golpes baseados em recibos falsificados.
O que diz a lei sobre esse tipo de fraude?
A falsificação de documentos — inclusive digitais — é crime previsto no Código Penal. Segundo o artigo 298, a pena pode chegar a 5 anos de reclusão.
Além disso, quem usa uma imagem falsa para obter vantagem indevida pode responder por estelionato (artigo 171), cuja pena varia de 1 a 5 anos de prisão, além de multa.
Como a tecnologia pode ajudar a combater o golpe do print?
Assinatura digital e QR Codes
Documentos com autenticação digital, como assinatura eletrônica ou QR Code verificável, oferecem muito mais segurança e dificultam fraudes.
Verificação em duas etapas
Aplicativos de mensagens e serviços financeiros que utilizam autenticação em dois fatores dificultam o acesso não autorizado e protegem melhor os dados reais.
Considerações finais
Com o aumento da digitalização nas transações cotidianas, cresce também o número de golpes que utilizam técnicas sofisticadas — e o golpe do print é um dos mais perigosos por seu aspecto visual confiável.
Por isso, é fundamental desconfiar de capturas de tela usadas como prova única, redobrar a atenção a sinais de manipulação e sempre buscar confirmar informações diretamente nas plataformas oficiais. Educação digital e atenção aos detalhes são as melhores armas contra a fraude.
Imagem: Freepik